segunda-feira, 8 de setembro de 2014

É o Silêncio... - Pedro Kikerry

    É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.  

Olha-me a estante em cada livro que olha.  

E a luz nalgum volume sobre a mesa... 

Mas o sangue da luz em cada folha.



Não sei se é mesmo a minha mão que molha 

A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.  

Penso um presente, num passado.  E enfolha 

A natureza tua natureza.

Mas é um bulir das cousas... Comovido

Pego da pena, iludo-me que traço

A ilusão de um sentido e outro sentido.

Tão longe vai!

Tão longe se aveluda esse teu passo, 

Asa que o ouvido anima...

E a câmara muda.  E a sala muda, muda... 

Àfonamente rufa.  A asa da rima

Paira-me no ar.  Quedo-me como um Buda

Novo, um fantasma ao som que se aproxima.

Cresce-me a estante como quem sacuda

Um pesadelo de papéis acima...

.

E abro a janela. Ainda a lua esfia 

últimas notas trêmulas... O dia 

Tarde florescerá pela montanha.



     E ó minha amada, o sentimento é cego...

Vês?  Colaboram na saudade a aranha,

Patas de um gato e as asas de um morcego.

Nenhum comentário:

Postar um comentário